"Tens de ser positiva". Ouvi muitas vezes esta frase desde que fiquei doente. Acontece que, eu sempre fui uma gaja positiva. Como diz uma amiga minha GAD! Graças a Deus. Perante a tragédia, o drama, o horror eu sou aquela que já está a pensar como é que vai fazer para dar a volta à situação. O copo para mim está sempre meio-cheio. Com um bom tinto. Assim sendo, é justo que me chamem a Miss Positividade. Onde é que isso me levou? A uma vida muito mais animada. Mas, não me impediu de ter cancro. A Miss Positividade ganhou em 2 anos, dois cancros. Nada do género "Pague um, leve dois", Foi mais "Leve dois e pague dois. Atenção que no segundo cobramos 60% de juros." Em dois anos, no jogo do Bingo dos cancros sairam-me dois números e estou-me a esforçar para não fazer uma linha.
"Tens de ser positiva que isso é meia cura". Sim, sim... não fosse a Carboplatina e o Paclitaxel, estava bem tramada. Houve também uma vez que alguém me perguntou se eu tinha mesmo de ser operada:
"-Não mas, eu não tinha nada para fazer nesse dia. Não quis perder a oportunidade de estar 7 horas numa cirurgia, fechar as urgências, ter 5 ou 6 médicos a olhar só para mim. Sempre quis conhecer uma unidade de cuidados intensivos, as luzes, os bips... e depois uma semana sem comer é melhor que qualquer SPA!"
"-Ah!..."
Não me lembro de quem foi a pergunta... É a benesse da quimioterapia, esquece-se muita coisa que não interessa. Alguma que interessa também mas, isso é outra história.
O ano passado por esta altura, estava eu ocupada a ser positiva. Vejo as minhas memórias do Facebook e penso: "Que inconsciente!" Eu estava feliz. Gostava do meu trabalho, estava finalmente perto de casa e tinha descoberto um desporto que adorava. Sentia-me forte e cada vez mais em forma.
Foi nessa curva ascendente que o meu segundo cancro me apanhou. Ele estava lá, caladinho, sorrateiro, a pensar como é que havia de me matar...
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