sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Positiva

"Tens de ser positiva". Ouvi muitas vezes esta frase desde que fiquei doente. Acontece que, eu sempre fui uma gaja positiva. Como diz uma amiga minha GAD! Graças a Deus. Perante a tragédia, o drama, o horror eu sou aquela que já está a pensar como é que vai fazer para dar a volta à situação. O copo para mim está sempre meio-cheio. Com um bom tinto. Assim sendo, é justo que me chamem a Miss Positividade. Onde é que isso me levou? A uma vida muito mais animada. Mas, não me impediu de ter cancro. A Miss Positividade ganhou em 2 anos, dois cancros. Nada do género "Pague um, leve dois", Foi mais "Leve dois e pague dois. Atenção que no segundo cobramos 60% de juros." Em dois anos, no jogo do Bingo dos cancros sairam-me dois números e estou-me a esforçar para não fazer uma linha.

"Tens de ser positiva que isso é meia cura". Sim, sim... não fosse a Carboplatina e o Paclitaxel, estava bem tramada. Houve também uma vez que alguém me perguntou se eu tinha mesmo de ser operada:
"-Não mas, eu não tinha nada para fazer nesse dia. Não quis perder a oportunidade de estar 7 horas numa cirurgia, fechar as urgências, ter 5 ou 6 médicos a olhar só para mim. Sempre quis conhecer uma unidade de cuidados intensivos, as luzes, os bips... e depois uma semana sem comer é melhor que qualquer SPA!"
"-Ah!..."
Não me lembro de quem foi a pergunta... É a benesse da quimioterapia, esquece-se muita coisa que não interessa. Alguma que interessa também mas, isso é outra história.

O ano passado por esta altura, estava eu ocupada a ser positiva. Vejo as minhas memórias do Facebook e penso: "Que inconsciente!" Eu estava feliz. Gostava do meu trabalho, estava finalmente perto de casa e tinha descoberto um desporto que adorava. Sentia-me forte e cada vez mais em forma.
Foi nessa curva ascendente que o meu segundo cancro me apanhou. Ele estava lá, caladinho, sorrateiro, a pensar como é que havia de me matar...

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