quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Novembro


Chegou Novembro. Este mês trás-me sempre alguma nostalgia. Aproximam-se as Festas e lembram-se os mortos. Algumas memórias trazem saudades de cheiros e sons. Era nesta altura que a minha avó fazia no forno os figos cheios - figos recheados com canela, açucar e miolo de figo, à moda da tradição algarvia - e começava o ritual das fatias douradas ao Domingo de manhã. Eu acordava com o cheiro da canela a perfumar a casa. E a cozinha era numa ponta e o meu quarto na outra. Que perfume! 
Tenho pena de nunca ter gravado a voz da minha avó. Às vezes parece que a ouço rir. A minha avó tinha um riso discreto e baixinho. Não me lembro de me levantar a voz. Ela sorria e ria. Os olhos franziam-se e ficava só uma nesga de olho azul a espreitar entre as pestanas loirinhas. Tinha a pele branquinha, branquinha, o nariz pequenino e arrebitado. Era bonita e refilona a minha avó. Tinha resposta para tudo e punha-nos na linha só com um olhar. Tenho saudades da minha avó. Tenho saudades do colo da minha avó. Todos os dias, todos os anos desde que morreu mas, principalmente em Novembro. 




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