segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A gota

É uma gota
Transparente,
Fluída,
Desliza pela tua pele,
E quero,
Segurá-la,
Com a ponta da minha língua.

Talvez percorra o mesmo caminho,
No sentido inverso,
Para descobrir de onde vem.

É uma gota.
D'água,
Apenas Água,
Uma gota pequenina,
Que acaricia a tua pele.
E eu, invejo-a.

sábado, 2 de novembro de 2013

O problema


A propósito dum romance alheio e num momento de tagarelice, dizia hoje uma amiga minha : "Há um tipo de homem, do qual eu sei que me tenho de manter afastada, por causa daquilo que dizes; têm uma necessidade constante de aprovação, são inseguros e isso torna-os instáveis."

"O problema" - disse-lhe eu  - "São os outros, os que não identificas imediatamente como uma ameaça, porque na altura não o são, os que deixas aproximar e que depois tens de arrancar como se faz aos pensos rápidos antes que te fiquem colados à pele. Esses são os perigosos."



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Inferno

Ela olha para ele deslumbrada. Os olhos brilham, os dedos enrolam o cabelo.
Quase consigo ler-lhe o pensamento.
Ela acha que ganhou o bilhete premiado da lotaria; ele é interessante, educado, conversador.
Ela não vê o gelo, vê o brilho; como o do sol quando se reflecte na neve.
Ela não vê a montanha, nem o perigo das curvas ou a instabilidade, ela só vê que ele é encantador.
Ela não percebe como é que um homem daqueles está sozinho. Acha-o maravilhoso, divertido, boa companhia.
Ela não sabe que ele é como uma droga, viciante e gratuita no inicio; muito cara depois do vício.
O que ela não sabe também, é que o bilhete, é só de ida: para o Inferno. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Depois de ti...

Há pessoas que nos ficam para sempre na memória. Pessoas que nos marcam pelas melhores ou piores razões. Tu conseguiste marcar-me por ambas. Foste o meu namorado iô-iô. Ora estavas, ora não estavas, não sei quantas vezes começámos e acabámos, a dada altura desisti de contar. Foste a primeira pessoa que me disse que eu tinha mau feitio. Mau feitio, eu? Olha para ti. Um leão e um carneiro a medirem forças. Cada um mais teimoso que o outro. Nenhum disposto a ceder. Claro que não podia correr bem.

Tu conseguias transformar o melhor, numa tortura. “Eu não gosto de ti”. Silêncio absoluto, eu a morrer, já com falta de ar e tu continuavas – “ Eu amo-te”. Tu a dizeres: ”Espectacular…” na primeira vez que me despiste. Eu envergonhada. E logo a seguir “ Mas tens de ter cuidado para não ficares com celulite no rabo”. Ora isso foi uma excelente recomendação, mas era por coisas como essa que às vezes só me apetecia bater-te! Ou tu a dizeres que me tinhas visto no Arraial  Académico com o meu namorado e que tinhas apanhado uma piela monstruosa nessa noite e eu sem perceber se por minha causa, ou apenas por que sim.

 Às vezes não sabia o que te havia de fazer… Era o teu olhar que me despia à descarada, eu a sentir que a minha roupa era transparente, a cara a ficar vermelha de embaraço. Ou a dizeres a um amigo teu: “É ela.” E os teus olhos brilhavam. Ou no meio duma multidão de gente num sítio qualquer à noite, tudo escuro, luzes a piscar, eu a passar por ti sem te ver e tu a segurares-me o pulso, a puxares-me para ti e a perguntares ao meu ouvido :  “Onde é que pensas que vais?”, “Para longe.” - pensava eu - "Para longe...". E os meus joelhos a ficarem como gelatina e eu já não ia a lado nenhum, a não ser para onde tu quisesses que eu fosse.

Partiste o meu coração no dia em que te confessaste apaixonado por outra mulher. Pela forma como falaste dela percebi que te tinha perdido para sempre. E na eventualidade de algo te correr mal, mudei de número de telefone, com a consciência de que se me quisesses procurar, terias de te esforçar muito. Ou não, porque sempre tivemos tendência para nos encontrarmos sem querer, sem saber. Parecia que o Universo tinha um plano para nós e se esforçava por nos juntar, não sei com que objectivo. Nunca percebi.

 Tu obrigaste-me a crescer, da pior maneira possível. Eu podia ter crescido à mesma, mas não daquela maneira. Um dia disseste-me que eu não lutava por ti. Não podia, não tinha força, estava a lutar por mim própria. Disseste-me também que se um dia fossemos amigos era porque nunca tínhamos sido outra coisa, isto enquanto o teu olhar subia pelo meu corpo, medindo cada milímetro da minha pele. E eu, engolia em seco.

 Para te esquecer fiz de conta que tinhas morrido. Proibi toda a gente de dizer o teu nome. Fiz luto. Fiquei pálida porque só saia à noite. “A lua não bronzeia “ - dizia o meu irmão do meio. Um dia pegou em mim e levou-me um fim-de-semana para o Alentejo.”Vais apanhar sol”. Acho que ele se apercebeu que eu estava a definhar. Tu eras o meu oxigénio. Trabalhei 16 horas por dia, meses a fio. Saia quase todas as noites para um sítio qualquer, ia a casa dormir e trocar de roupa. A trabalheira que me deu esquecer-te… E agora, tantos anos depois, voltas e queres ser meu amigo. E a minha melhor amiga vai dar o teu nome ao filho dela. “Eu sei” dizia-me ela, a tentar consolar-me ainda antes de eu conseguir falar. “Desculpa, mas é o nome que o pai quer…”. É mas é o Universo a rir-se de mim.

Não sei em que prateleira te vou colocar… Sei que acabou, mas começo a achar que não és um homem, és um karma. Devia ter aproveitado a visita do Papa para um exorcismo. Dizem que trazemos para a nossa vida as pessoas de que precisamos e não consigo perceber qual é o teu papel. O que é que tens ainda para me ensinar? Ou serei eu a ti? Se o que não nos mata nos torna mais fortes, tu tornaste-me quase imortal, uma verdadeira fortaleza de força. Depois de ti, percebi que tudo o que passasse por mim seriam grãos de areia. Depois de ti Pedro, tudo seria tão mais fácil de ultrapassar. Obrigada.

 (Outubro/Novembro 2009)

A folha

Insignificante
Folha
Levada
P'lo Vento
Num Turbilhão
Flutua
Cai
Suavemente
E recomeça
Tudo

De Novo.

CMar - algures no tempo.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pufffttt!

Nem de propósito e sem ter nada a ver - pelo menos não directamente - com o post anterior, aquele momento em que se percebe que há pessoas que se tornaram simplesmente "pessoas" é o equivalente ao Nirvana do coração.

Não é que se esqueçam,  não se esquecem, mas perdem importância. Perdem-na de tal maneira que nos lembramos de que "gostei" é o pretérito perfeito do verbo gostar, e uma consequência ou antecedência - nem sei bem - do "acabou", que por sua vez é o pretérito perfeito do verbo acabar que por sua vez determina o fim de algo, ou como diria um amigo meu: "Já foste!"

End of Story

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Um dia...

Vou-me lembrar que já te esqueci.



"It's time to let it go, go out and start again
But it's not that easy

But I've got high hopes, it takes me back to when we started
High hopes, when you let it go, go out and start again
High hopes, oh, when it all comes to an end
But the world keeps spinning around

And in my dreams, I meet the ghosts of all the people who have come and gone
Memories, they seem to show up so quick but they leave you far too soon
Now evil is just staring at the barrel of a gun
And I do believe

Believe I've got high hopes
It takes me back to when we started."

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Alguém que me entende...





A imaginação é mais importante do que o conhecimento, pois o conhecimento tem limites.

Sindrome Bolas de Berlim

Ironicamente, numa praia maravilhosa, com água azul turquesa, areias claras, situada do outro lado do Atlântico, houve uma altura em que pensei: "Para isto ser perfeito, falta-me uma bola de Berlim. Como é que é possível estes tipos não terem bolas de Berlim?!" E olhei à volta, à procura duma senhora vestida de branco, com um cesto rectangular, a caminhar na areia, que transportasse os meus sonhos de bola de Berlim com ela...

domingo, 21 de julho de 2013

Ó, pois é...


Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos temos o mesmo horizonte.

E às vezes é difícil fazer com que os outros vejam o mesmo horizonte que nós...


sábado, 13 de julho de 2013

Ich weiß, mein Schatz

Ich habe dich gehen zu lassen.
Ich haben gelernt, keine Angst zu haben, Risiken einzugehen.
Es gibt nichts zu verlieren, nicht wahr?
Ich liebe dich. Danke
Thy Wassernixe



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Be Aware...

Não vemos aquilo que não estamos à espera de encontrar.

Eu não te via, não te vi. Foste tu que saltaste para a minha frente e me confrontaste. "Tu és a rapariga da praia. Amanhã vais à praia? Eu não tenho o meu telefone aqui, mas vou-te dar o meu número, por favor envia-me uma mensagem." Assertivo. Acho que não conseguiria dizer mais nada além de sim.



segunda-feira, 8 de julho de 2013

Tom Odell - Hold Me



Descobri isto...e agora estou completamente "agarrada"...

"Suddenly I'm standing on a treetop up so high
And all the songs, and all the poems, suddenly they're right
And I'm dumbfounded by the breadth of your self control
But I don't care 'cause you're here, and you and I both know

When you hold me, when you hold me in your arms
Oh when you hold me, yeah I'm picking out the stars
When you hold me, when you hold me in your arms
Oh when you hold me, yeah I can feel your heart beating"

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Ich bin ein Wassernixe


E eu que sempre achei que nunca iria gostar de música em alemão... só me lembro de cantarolar a música da Nena, 99luft balons - com péssima pronúncia, e tudo à conta de umas férias em Lagos - agora estou viciada nesta música...Toma lá que é para não dizeres desta água não beberei!

""Ich denke verkehrt, ich denke verdreht,
Ich denke dass ich Nichts und mich niemand versteht.
Tu nur das was dein Herz dir sagt,
Alles andere soll dich nicht stören"


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Bla, bla, bla....whiskas, saquetas...


Um dia hei-de escrever sobre ti.
Tu foste depois da meia-noite. Talvez seja hoje... já é depois da meia-noite.
Tu foste uma lufada de ar fresco, tão fresco como os teus olhos azuis claros, rasgados, tão castiço como o teu sotaque carregado de "r's" numa língua que não era a tua. Tu tão decidido quando me agarraste e eu tão determinada a não me deixar agarrar.
O que me lembro daquela  noite és Tu. A maneira como olhavas dentro dos meus olhos, como se te pudesses perder e como me deixei afogar nos dois lagos que eram os teus. Tu a explicares-me porque tinhas demorado - fazias questão de me explicar, disseste - e eu derretida, perdida no teu olhar, no teu sorriso, no contorno do teu queixo e no final a ouvir apenas: "Blá, blá, blá... whiskas, saquetas..."
E na praia, céu estrelado, tu a entrares na água e a dizer: "Come". e a eu a pensar naquela música dos Nirvana: "Come as you are, as you were, as I want you to be..." E fui, fui como estava, vestida e tudo. Tu a puxares-me para ti, e foi quando percebi como eras alto. A tua boca no meu pescoço, as tuas mãos nas minhas costas, a maneira como as colaste nas minhas ancas, a tua boca na minha, o teu morder suave. Os beijos trocados, misturados com água salgada, morna, eu encostada ao teu peito.
Tu... a respirares fundo quando te disse não. Eu a não respirar, depois de te ter dito não. E os três beijos que me deste quando nos despedirmos naquela avenida deserta. Três, porque um pareceu pouco e dois não foram suficientes... Tudo gravado na minha memória e na tua também. Há coisas que faço, penso e digo, porque te conheci. Agora fazes parte de mim e eu parte de ti.
E faz sentido que seja hoje que escrevo sobre ti... Faz sentido que seja hoje...

sábado, 30 de março de 2013

E não é que vê mesmo?


Esta semana foi assim uma espécie de "Quem ri por último, nem sempre é retardado".

Desde o inicio do ano que tenho tido provas de que a vida dá muitas voltas e de que aquela máxima de que não é necessário mexer uma palha para prejudicar quem nos prejudica, é bem verdadeira. A minha avó tinha razão e não vale a pena sujar as mãos. O destino, ou karma, ou whatever, encarrega-se disso. E não é que me alegre com desgraças alheias, mas não consigo evitar um sorrisinho irónico quando vejo que efectivamente isso acontece, sem que eu tenha sequer pensado mais no assunto.

Aquela máxima do "Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti", é para cumprir. O karma é como o Pai Natal, está sempre a ver e é bem mais mauzinho! Da próxima vez, pensem nisso!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Primavera


Outro dia dei por mim a fazer contas. Nunca soube de cor os teus anos. Lembro-me que vieste depois da Primavera, num dia de muito calor. Vieste não, fui-te buscar. Ouvi-te miar, um dia, quando chegava a casa ao entardecer. Miavas alto, muito alto, um miado quase histérico. Estavas no recinto duma creche, metido não sei onde. Não te via, só te ouvia e o local estava fechado. Era a caminho de casa, por isso resolvi voltar no dia seguinte de manhã e perguntar se alguém tinha visto um gatinho, já que tinha ouvido miar por ali no dia anterior. Responderam-me com ar displicente: “Sim, está no parque de areia.” Pedi para me deixarem entrar para te ir buscar.

Eras uma coisa preta, pequenina e magricela, muito refilona. Assopraste no caminho todo até casa enquanto te aninhavas nas minhas mãos, numa mistura de amor/ódio, salva-me/deixa-me em paz. Estavas desidratado, esfomeado, pulguento, e presumi, perdido da tua mãe. Era demasiada desventura para uma criatura tão pequenina. Terias 2 meses, mais coisa, menos coisa, disse a veterinária depois de te ver a fileira de dentinhos afiados e de te desparasitar de tudo o que era bicho. “Durava mais 24 horas” - disse ela. Nesse dia, percebi, roubei-te à morte.

Eras ainda um bebé atrevido quando te enrolaste nas alças finas de um vestido, pendurado nas costas de uma cadeira. Dessa vez foi a Finha, gata preta como tu e espertalhona, que chamou a Mãe e a levou até onde estavas. Uma tesoura, alças do vestido cortadas – não havia tempo para as desembaraçar – um vestido a menos, um gatinho vivo. Saldo final 2/7. Fazias, como todos os gatinhos bebés, muitas tropelias e calculo que tenhas gasto mais umas quantas vidas enquanto eu não estava a ver.


Estiveste doente a sério, pela primeira vez já tinhas 2 anos. As almofadinhas das patas inchavam como se tivessem bolhas de água e rebentavam, mesmo assim não desistias dos teus passeios. Conheceste nessa altura todos os veterinários da margem Sul, fizeste biopsias e análises até descobrirmos o que tinhas. Fazíamos turnos a tratar-te as patas, que besuntávamos de Betadine, que tu fazias questão de lamber. Parte do tratamento consistia em segurar-te o focinho para deixar o Betadine secar. Tempos depois apareceu-te uma mancha amarelada no lombo, como se o pêlo, o teu belo pêlo de urso, tivesse sido queimado. É uma sensação que nunca vou esquecer, o deslizar dos dedos da minha mão no teu pêlo; era tão denso, forte e macio, que acabou por te baptizar, passas-te a ser o meu gato-urso, “o meu ursinho”, era como eu te chamava. É uma sensação de tal forma embutida na minha memória, que agora, de cada vez que penso que não voltarei a fazer-te uma festa, parece que as minhas mãos ganharam uma certa percentagem de inutilidade, como se parte da sua função tivesse desaparecido com a tua morte… O teu pêlo era de tal modo denso que no Inverno, fazias lembrar o gorro dos guardas do palácio de Buckingham e houve alturas em que me apetecia pôr-te à volta do pescoço e usar-te como cachecol. Mas ao contrário da Coral, que me deixava fazer essas maluqueiras, tu não ias nisso. Demasiada palhaçada para um gato que se preze; no máximo dos máximos, fazer de manta de colo. Nada de abusos.


Habituei-me a fazer o caminho entre o portão e a porta de entrada em casa, contigo a enrolares-te nas minhas pernas, enquanto me ias contanto as desventuras do dia, ou da semana. Às vezes em monólogos tão extensos e expressivos, que acho até que seria alguma coisa deveras importante e detalhada; talvez uma nova experiência, como daquela vez em que dei contigo armado em papagaio, a dormir, encaixado entre ramos de uma videira - uma mancha negra no meio do verde. Foste um gato feliz, muito dócil, com uma adoração particular pela minha Mãe, acho que o Pai gostava de ti, pelo tanto que gostavas dela.

Não sabia que já tinhas esgotado as tuas sete vidas, mas suspeitei e lembro-me de olhar para ti no fim-de-semana antes de morreres e de pensar: “Um destes dias vais-me pregar uma partida e não vou ter tempo de me despedir de ti.” Gato malandro, foi mesmo assim, não me deste tempo. Só senti esse aperto no coração, de pensar que o nosso tempo partilhado poderia estar a chegar ao fim. Não te vi definhar, não tive de te dar comprimidos e injecções, não andei contigo dias a fio a caminho do veterinário, angustiada, não fui obrigada a dizer que te queria abater, poupaste-me a todo o sofrimento de te ver desaparecer aos bocadinhos como acontece a todas as criaturas que envelhecem e até nisso, meu gato-urso, foste bonzinho para os teus donos.

Sei que me vou sentar numa cadeira e esperar que te venhas deitar no meu colo, como fazias sempre que eu regressava à casa que me viu crescer. E quando começar a Primavera vou atravessar o jardim e esperar ver-te aparecer em equilibrismo nos ramos das videiras, ou encontrar-te a dormir de barriga para o ar naquelas tuas posições tão absurdamente artísticas. Sei que vou chamar-te algumas vezes por engano e corrigir para o nome de um outro gato, e sei que o engano me vai doer, como vão doer todos os hábitos que não vamos retomar, todos os rituais, que por não serem cumpridos, tornarão ainda mais viva a tua ausência…